terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Fuga de Miccoli - A verdade

Texto retirado de um excelente Blog

http://eternobenfica.blogspot.com/2008/02/quatro-linhas-3-fuga-de-miccoli.html

passem por lá

tempo é sempre uma oportunidade dada pelo destino. Há quem aproveite o tempo para fazer a coisa certa e quem o trate com desprezo, demasiado confiante numa capacidade cega e automática de que tem razão em tudo o que faz ou em tudo o que diz. Nos últimos três anos, depois de ter ganho o campeonato com Trapattoni, o presidente do Benfica ganhou um novo passatempo. O de destruir tudo o que tinha pacientemente realizado. Uma boa equipa, a recuperação do clube e a defesa homogénea de um processo judicial que ajudou a criar uma unidade impensável no país contra a batota e a pouca vergonha.

Justamente, há três anos atrás, disse num programa da Sporttv, que Luís Filipe Vieira arriscava-se a entrar para a história do Benfica como um dos mais decisivos e reconstrutores presidentes da história do clube. Pois bem, o tempo foi passando e o presidente do Benfica foi-se desviando do seu caminho e eu da minha convicção. O livro de José Veiga, que ajudei a escrever, é uma explicação para o que aconteceu nas últimas épocas. Não é a única mas devia ser esclarecedora. Nos últimos três anos, o Benfica não apenas perdeu uma oportunidade histórica de arrumar com o “sistema” a um canto, como ainda lhe proporcionou uma nova e inesperada vida.

Não discuto com os benfiquistas a bondade da decisão de afastar José Veiga do centro de decisões fulcrais do futebol do clube. Eu penso que foi uma decisão que não defendeu os interesses do Benfica, mas admito outras opiniões. Sobretudo porque existe um constante bombardeamento de alguma imprensa, controlada pela SAD do Benfica e que serve o objectivo de condicionar os jornalistas e mentir aos adeptos.

Concretizando melhor: O jornal Diário de Notícias publicou recentemente uma alegada entrevista de Miccoli ao jornal, onde, entre várias citações, é anunciada a extraordinária candura de um desmentido do jogador italiano a várias revelações contidas no livro de José Veiga. O propósito era o de assegurar que os benfiquistas fossem intoxicados com a conveniente reposição dos factos. Se tudo corresse bem, ninguém daria pelo facto e o presidente Vieira saia em ombros da situação, alegadamente ilibado pelo jogador da sua transferência para o Palermo.

Acontece que no livro de José Veiga, além de outros assuntos, o episódio nele contido sobre o modo como o Benfica se desinteressou da permanência do jogador italiano, foi tratado por mim. E então é importante que se diga: Em vinte e cinco anos de carreira nunca dei a ninguém a mínima oportunidade a que me chamassem mentiroso. Tenho escrúpulos, sempre tive, sempre recusei muita proximidade em relação aos agentes desportivos, exactamente porque sei como é que se compram notícias e influências e porque está claro que a actual estratégia comunicacional do Benfica passa quase em exclusivo por arranjar moços de recados que ajudem a descredibilizar o livro de José Veiga e algumas das suas passagens mais desconfortáveis.

Daí que possa assegurar que as declarações de Miccoli ao Diário de Notícias inauguram talvez um novo conceito de jornalismo. O das entrevistas-fantasma. Nesse mesmo dia pude falar com Francisco Caliandro, advogado e representante de Miccoli que confirmou as minhas piores expectativas: O jogador não deu entrevista nenhuma. Fiquei sossegado com a minha consciência, porque tinha sido o mesmo Francisco Caliandro a contar-me todo o episódio da proclamada fuga de Miccoli para Itália. E, de novo, confirmou-me que o Benfica teve a possibilidade de contratar em definitivo o jogador por três milhões de euros, que Miccoli aceitava baixar os seus vencimentos de modo a ajustá-los à tabela salarial do clube, que o jogador renunciou a jogar no FC Porto e que esperou até ao limite do insuportável por uma resposta do Benfica. Aliás, ainda hoje está à espera que a SAD benfiquista lhe diga se mantém interesse na negociação.

O que está mal neste processo todo não é que o Benfica se tenha desinteressado da contratação definitiva de Miccoli. Eu próprio tenho muitas dúvidas que fosse recomendável ao Benfica gastar tanto dinheiro – entre salários e passe do jogador – na sua fixação no plantel do clube. Continuo a pensar que a opção em contratar Cardozo é mais sensata e desportivamente mais equilibrada. Alguns podem descrer, mas o atacante paraguaio permitirá ao Benfica, no futuro, pulverizar todos os recordes de transferências em Portugal. O que me agonia em todo este processo é a mentira, como se ela fizesse parte de um acto normal de respiração. A SAD do Benfica deve assumir que desistiu de Miccoli porque esse foi um acto legítimo de gestão desportiva e, provavelmente, uma louvável poupança de meios financeiros.

De uma vez por todas, o Miccoli não permaneceu no Benfica porque o Benfica não quis. E se querem a minha opinião, fez bem.

P.S – Apenas um esclarecimento. Ou tanto melhor, dois. Não fui despedido da Sporttv. Apenas me desafiei a mim próprio a testar a minha capacidade e os meus conhecimentos noutro âmbito da comunicação. A dos clubes de futebol. A decisão foi minha, foi contestada pela empresa que pretendia a minha permanência e foi antecedida de muita reflexão. Também não saí porque estivesse a fugir do actual presidente do Benfica, que prometeu a várias pessoas no clube e na SAD que ia «fazer-me a folha». Não me perdoa a participação no livro de José Veiga e sei que tudo fará para me prejudicar no futuro. Uma coisa é certa. Se este é o preço que tenho de pagar pela minha amizade com José Veiga, pois então, estou a disposto a pagá-lo. As minhas amizades sou eu que as escolho. Só não consigo explicar aos meus filhos como é possível gostar tanto de um clube e ter um presidente do mesmo clube atrás de mim com um desejo tão sádico de vingança.

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